sábado, 11 de março de 2017

1. As grandes corporações.

A ilusão da escolha. 
A literatura cyberpunk do século passado difundiu o termo megacorporação que se referia a ideia de uma empresa multinacional, a qual atingiu um lucro tão exorbitante que chegava a ultrapassar o PIB de muitos países; desta maneira a empresa utilizava seus recursos para construir uma espécie de estado próprio detendo o poder das leis e da vida dos indivíduos que nesse suposto estado vivessem. Naquela época, a ideia parecia apenas um vislumbre imaginário de uma realidade impraticável. No entanto, apesar dessas megacorporações com poder de estado ainda só existirem na imaginação dos artistas, a verdade é que o fenômeno de acúmulo do capital em um número reduzido de empresas tem crescido e seu poder, sim, já afeta a vida de todos os indivíduos e até dos estados. Por exemplo, apenas dez empresas controlam quase tudo que você consome em alimentos no mundo e, por consequência, detém o fluxo financeiro desse capital de consumo alimentício. Um gráfico da “The Illusion of Choice”, divulgado pelo sítio PolicyMic, deixa claro como a maioria das marcas consumidas  são controladas pelas mesmas poucas empresas.Uma delas, a Mars, detém marcas como Twix, M&M’s e Snickers, além de controlar rações animais, como Whiskas, Pedigree e Royal Canin. A Nestlé, além de chocolate, também detém marcas de ração para animais e dos cosméticos Maybelline e Vichy. Veja o quadro:






Ok, mas e daí o que isso significa na prática? Significa que apesar de achar que está escolhendo entre marcas e produtos diferentes, na verdade está consumindo coisas impostas por um número reduzido de empresas. No fundo, não há muita diferença entre um produto e outro, o que limita totalmente a inovação e criatividade dentro da indústria. Limita também nosso poder de escolha; se uma empresa prejudica o meio ambiente, poderíamos optar por outra que supostamente não o prejudica, porém, no fundo, todas são frutos do mesmo ramo. Mas este é o menor dos problemas, a questão aqui é muito maior e preocupante. Se poucas empresas controlam o fluxo capital no mundo, isto quer dizer que qualquer tipo de empreendedorismo se trata de uma ilusão. A lógica do próprio sistema capitalista e, consequentemente, meritocrático, é posta em cheque: ou você trabalha para uma grande corporação ou a grande corporação o destrói assim que crescer. Existem exemplos escancarados, igual o caso do Guaraná Jesus ou da Matte Leão (empresas que obtiveram sucesso regional, mas foram pressionadas por uma grande corporação a tal ponto que necessitaram serem vendidas para esta corporação). Nas últimas décadas, estas corporações tem aumentado seus lucros de maneira alarmante e num ritmo cada vez maior. Agora, de fato, estão prestes a se tornarem as megacorporações da literatura cyberpunk principalmente a partir das leis que tem sido aprovadas em países americanos e europeus a fim de satisfazer os interesses dessas corporações. O mundo está a um passo de substituir as democracias pelos regimes megacorporáticos.

As corporações afetam as políticas nacionais. 
Há pouco tempo o congresso brasileiro finalmente conseguiu aprovar o fim dos financiamentos privados de campanha. A medida foi adotada pensando nessa influência das corporações mais ricas que apoiavam os candidatos em prol de benefícios pós eleição. No entanto, na prática, tal medida não tem muito efeito; os partidos ainda podem receber doações de agentes privados (donos das empresas e seus acionistas), sem contar o fluxo de capital ilegal que nem nos damos conta e serve para molhar a mão dos políticos que cumprem seu papel em satisfazer os desejos de determinada corporação. Num sistema capitalista e humano, onde o desejo de riqueza e bem estar individual acaba sempre falando mais alto, não é de se espantar que sobre pouco para os políticos fazerem em prol do benefício coletivo. O estado se tornou, numa analogia chula, “a prostituta das corporações”. Darei alguns exemplos práticos. Nos EUA existe uma forma legal de molhar a mão do judiciário por meio dos acordos ditos “settlements” , onde corporações pagam uma multa, mas não precisam reconhecer a culpa por desastrares que eventualmente cometeram; evitando assim que os administradores sejam criminalmente responsabilizados. Ou seja, numa catástrofe como a de Mariana, a empresa só precisa pagar uma determinada multa, sem ninguém ser levado a julgamento ou eventualmente preso por conta das mortes e desastre ecológico causado. O que faz as empresas calcularem seus lucros através da simulação do “ mais vantajoso”: uma eventual multa compeça os lucros adquiridos com o esquema? Em geral a resposta é sim e as empresas agem de forma ilícita sem muita preocupação, afinal ninguém será preso e haverá lucro independente do que ocorra. No Brasil, não funciona exatamente como nos EUA, mas a burocracia ajuda as empresas a se safarem de suas responsabilidades. De acordo com o site da Folha de São Paulo “ Infratores ambientais pagam só 8,7% das multas aplicadas pelo Ibama, quando a dívida não é paga o processo contra a empresa leva em média oito anos para se concretizar. No final das contas, legalmente a dívida caduca e a empresa não necessita pagar mais nada. E não é só assim com o meio ambiente, mas em todas as esferas empresariais. Corporações como as telefônicas deitam e rolam em cima das leis, pois suas multas tem tetos muito baixo e são poucas as pessoas que insistem em levar os processos às últimas consequências. Deste modo, como já explicado, a corporação faz uma simulação entre lucros e perdas obtidos com seus desmandos; se o lucro é certo, a empresa age na ilegalidade sem nenhum tipo de remorso ou controle maior. “Hoje as corporações dispõem do seu próprio aparato jurídico, como o International Centre for the Settlement of Investment Disputes (ICSID) e instituições semelhantes em Londres, Paris, Hong Kong e outros. Tipicamente, irão atacar um país se este impuser regras ambientais ou sociais que o mundo corporativo julga desfavoráveis, e processá-lo por lucros que poderiam ter tido. A disputa jurídica constitui uma dimensão essencial dos tratados TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), na esfera do Atlântico, e TPP (Trans-Pacific Partnership) na esfera do Pacífico. Tais acordos amarram um conjunto de países com regras internacionais em que os Estados nacionais perderão a capacidade de regular questões ambientais, sociais e econômicas, e muito particularmente, as próprias corporações. Pelo contrário, serão as próprias corporações a impor-lhes — e a nós todos — as suas leis.” [Fonte]
Se quiser saber mais sobre a influencia negativa das corporações na sociedade moderna assista aos vídeosA Corporação; O mundo segundo a Monsanto; Cosmos: A Spacetime Odyssey - Episódio 7 Sala Limpa;  Bayer & Monsanto: Lucrando com a Doença e vendendo a “Cura”

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